«Lançamos sementes. Sementes de esperança e de confiança. Sementes que hão-de germinar neste Portugal que é de Abril, neste Portugal de futuro». As palavras são de João Ferreira e com elas finalizou, sob fortes aplausos e com a sala de pé, o jantar em Serpa, última etapa da passagem esta sexta-feira da caravana CDU pelo Alentejo. Depois da excelente recepção pela manhã nas acções e contactos na Vidigueira e em Cuba, da entusiástica e muito participada arruada pelo centro histórico de Beja (que desembocou num comício presidido pelo mandatário distrital Bernardo Loff e onde interveio também o candidato Tiago Aldeias), só poderia ser, pois, de forte confiança, a tónica que perpassou o discurso do cabeça de lista da CDU às eleições para o Parlamento Europeu e que foi, de resto, de forma notória, partilhada pelas 250 pessoas presentes no amplo salão polivalente de Serpa (salão do espaço da feira).
Na mesa, presidida pelo mandatário concelhio João Efigénio, além dos candidatos, encontravam-se dirigentes locais, regionais e nacionais das forças que integram a CDU, entre os quais João Pauzinho, do CC, e João Dias Coelho, da Comissão Política, bem como o presidente da Câmara de Serpa, Tomé Pires.
Este foi, aliás, o primeiro orador da noite e não perdeu o ensejo de chamar a atenção para «importância destas eleições», sublinhando que «tudo o que se decide em Bruxelas tem impacto nas nossas vidas e no Alentejo», como mostra a política agrícola comum (PAC) e suas consequências no nosso País.
Da pesada factura que recai sobre o nosso povo e o País fruto das políticas da UE falou também o candidato João Dias, assinalando como esses efeitos se sentem nos mais variados domínios, desde a destruição do aparelho produtivo à «acentuação das desigualdades entre territórios», passando pela saúde, a mobilidade (ferrovia, por exemplo), a educação, o poder local (eliminação de freguesias) ou um «modelo agrícola que não nos serve».
Criar ricos e não riqueza
Também João Ferreira dedicou boa parte da sua intervenção à questão da produção nacional e muito em particular à agricultura, questionando-se sobre para quem é o «sucesso» que alguns alardoam com o amendoal intensivo e super-intensivo, «beneficiando do grande investimento público que é o Alqueva» .
«Para os trabalhadores que trazem de países longínquos para pagarem salários de miséria? Para as populações que têm que viver paredes meias com doses brutais de pesticidas lançados sobre as povoações? Ou para as terras que são sobre-exploradas e quando o olival deixar de produzir não se sabe se darão para mais alguma cultura? Para a biodiversidade quando sabemos que morrem milhares de aves pelos métodos agressivos das colheitas?», inquiriu João Ferreira, antes de formular outra perguntaa: «É este o modelo de produção que queremos que predomine na paisagem alentejana?»
A resposta deu-a ainda o candidato esclarecendo que, para a CDU, o «aumento e diversificação da produção nacional, também na agricultura, deve ser compatível com a defesa do ambiente e a salvaguarda dos recursos naturais, com a promoção e a elevação da qualidade de vida das populações, com o direito a uma vida sadia». E considerou que as« políticas agrícolas vigentes devem incentivar este equilíbrio».
Balanço desastroso
Depois de ter passado em revista o balanço negro dos impactos de três décadas da PAC – 400 mil explorações agrícolas destruídas, 550 mil postos de trabalho eliminados, 700 mil hectares de terras aráveis abandonados, um défice da balança agro-alimentar de mais de três mil milhões de euros, por exemplo -, e de ter lembrado o que foi possível alcançar nestes três anos em favor da pequena agricultura pela acção da CDU, João Ferreira, abordando a questão da reforma da PAC que estará em debate nos próximos anos, desafiou os vários partidos a esclarecerem - «agora, antes das eleições e não depois», frisou – se estão disponíveis para apoiar medidas preconizadas pela CDU em favor da pequena e média agricultura ou se «continuarão a apoiar reformas da PAC destrutivas para a agricultura e para a produção nacional».
Medidas que a CDU defende como, por exemplo, a redistribuição das verbas da PAC, a recuperação de instrumentos de regulação da produção e dos mercados em sectores como o leite e a vinha, ou a garantia de preços justos à produção.
Até agora, como a campanha tem mostrado, este é um debate a que os outros partidos se têm furtado. E não é difícil perceber porquê...