As tradições democráticas do concelho, nos mais distantes tempos de resistência e de luta contra o fascismo, como no período mais recente da ofensiva conduzida pelo governo PSD/CDS, foram o pano de fundo sob o qual decorreu o grande e entusiástico comício de quarta-feira à noite, em Alpiarça, no largo frente à histórica colectividade Os Águias.
O papel das forças políticas que dão corpo à CDU foi lembrado como marca de diferença face aos demais partidos e como garantia quanto à acção futura, argumentos para apelar a mais um esforço, até ao último minuto, para ganhar mais apoios e mais votos nas eleições de domingo.
Augusto Figueiredo, dirigente regional do PCP e candidato na lista da CDU para o Parlamento Europeu, perguntou «onde estavam os outros partidos e agora candidatos quando encerravam escolas, estações de correio, nos incêndios, na luta contra a privatização e o desmembramento da EMEF?». «Eu só vi os deputados do PCP», respondeu o primeiro orador da noite.
A dirigir o comício, Mário Fernando Pereira, por todos reconhecido como presidente da CM Alpiarça e que a si próprio se apresentou apenas como membro da DOR Santarém do PCP, deu depois a palavra a Mariana Silva.
A dirigente do Partido Ecologista «Os Verdes» e candidata na lista da coligação PCP-PEV, considerou «muito positivo» o balanço do trabalho realizado nestes dias de campanha eleitoral. «Mas é preciso continuar nas ruas a informar, a levar o trabalho feito pelos eleitos da CDU a toda a gente, a explicar que o voto na CDU é importante para defender Portugal na União Europeia e um novo caminho para a política da UE».
Notando como «todos hoje se dizem ambientalistas desde pequeninos», chamou a atenção para «as políticas que praticam e promovem» e que «em nada defendem o ambiente». Sublinhou que «o voto ecologista é na CDU» e defendeu que «é possível termos na UE uma voz “verde”, que se comprometa com a defesa dos interesses nacionais, das pessoas e dos seus direitos, a exigir um combate sério à poluição da terra, do ar e da água» e que «continuará a lutar por um plano sério e realista de despoluição do Rio Tejo».
Para João Luís Madeira Lopes, da Intervenção Democrática e mandatário regional da CDU, esta é «legítima herdeira dos movimentos unitários» que lutaram contra o fascismo e pela liberdade: o MUD e a CDE. Recordou que «Alpiarça foi pioneira e terra marcante dessa jornada» e evocou alguns nomes de «camaradas e companheiros que foram exemplo de dedicação solidária».
Madeira Lopes relatou como, na campanha da oposição democrática, em 1973, Jerónimo Nazaré denunciou em Alpiarça «os abutres que nos governam» e foi julgado em tribunal por isso e, «no próprio dia 25 de Abril de 1974, procurou-me em Santarém e propôs que fôssemos já a Lisboa, queria gritar lá “Os abutres que nos governaram”».
João Ferreira começou por afirmar que o «combate constante» travado nesta campanha «pela seriedade, pelo rigor e, acima de tudo, pela verdade» é para prosseguir. «Não aceitamos o vale-tudo da superficialidade e do ilusionismo daqueles que estiveram juntos no Parlamento Europeu em todas as decisões relevantes e vêm agora fazer de conta que, afinal, têm grandes diferenças», declarou o deputado e primeiro candidato na lista da CDU, confirmando a intenção de «clarificar opções e combater ilusões, com uma coerência de razões» que a vida tem vindo a confirmar.
A CDU apresenta-se como «uma força de confiança», pois «nunca enganámos ninguém com embrulhos muito bonitos a esconder conteúdos muito amargos». João Ferreira indicou três exemplos: o «pilar social» da União Europeia, «que PS, PSD e CDS apoiaram no Parlamento Europeu e que o PS agora quer verter no seu “contrato social”»; a União Bancária «ao serviço dos megabancos que nos sugam o fruto do nosso trabalho»; e a directiva sobre a água para abastecimento público, «que garante condições para os concessionários privados continuarem a fazer negócio à conta deste direito fundamental, mas ainda com menos encargos».
A CDU é «a grande força que faz a diferença no pantanoso consenso comunitário das políticas da direita e da social-democracia, onde convivem há anos PS, PSD e CDS, com graves consequências para Portugal», realçou Jerónimo de Sousa, o último dos oradores.
O Secretário-geral do PCP assinalou que «na nossa campanha os problemas do País não passam ao lado, como acontece com as campanhas de PS, PSD e CDS». Estes assumem em conjunto «um programa alheio congeminado em Bruxelas» e alimentam a campanha com «troca de piropos» e «secundaríssimas diferenças», «porque, naquilo que vai contar e que determina verdadeiramente o rumo do País, já se puseram de acordo, quando ajoelharam perante o directório das grandes potências europeias e os monopólios».
Declarando «confiança num bom resultado da CDU», «pela lista que temos e pelo trabalho realizado no Parlamento Europeu», Jerónimo de Sousa acrescentou que «sentimos também o reconhecimento, por mais portugueses, pelo nosso trabalho e luta aqui no País», durante os últimos «quatro anos que mostram a decisiva importância de dar força à CDU».
«Nós temos confiança de que é possível avançar», mas esta é «uma confiança que não fica à espera», «uma confiança de quem vai à luta», pelo que «não podemos abrandar no esforço para a conquista de novos votos, mas também para que nenhum voto se perca, mesmo nenhum, daqueles votos que podem contribuir para eleger deputados CDU e dar mais força à força que temos hoje para avançar», disse o dirigente comunista, apelando a «um esforço final de mobilização e de esclarecimento».
«Pilar social» quer dizer retrocesso
Como um dos «embrulhos muito bonitos a esconder conteúdos muito amargos», João Ferreira referiu em Alpiarça o «pilar social» da UE, que o PS adoptou como «novo contrato social».
Na verdade, sob a capa da preocupação social, ele traz consigo o aumento continuado da idade da reforma, o aumento e a desorganização do horário de trabalho, a generalização da precariedade no trabalho e na vida e a instabilidade permanente, traz a desvalorização das pensões e da Segurança Social e abre mesmo caminho para a privatização da Segurança Social.
«É preciso muito descaramento», criticou o candidato e deputado, depois de se debruçar sobre os conteúdos do documento proclamado com toda a pompa em Novembro de 2017: - «Onde é que esse pilar social afirma a necessidade de investimento nos serviços públicos, mantendo-os na esfera pública? Não defende!
- Conseguem provar-nos que o pilar social proíbe a precariedade no trabalho, fazendo com que a um posto de trabalho permanente corresponda um vínculo permanente? Não, não o faz, pelo contrário legaliza a precariedade com a introdução de conceitos como a “flexibilidade” e o “auto-trabalho”!
- Conseguem dizer-nos onde está escrito que o direito ao trabalho é um direito fundamental de qualquer cidadão? Não conseguem, pelo contrário, aquilo que está escrito é o direito a procurar emprego».
João Ferreira alertou que, «a ser aplicado em Portugal, este pilar social significaria que andaríamos para trás décadas no que toca aos direitos laborais e sociais que já hoje estão consagrados na Constituição».