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Parido Comunista Português

Intervenção de Manuel Loff, Mandatário ao círculo do Porto

Aqui estamos para nos batermos por eleger para uma Assembleia da República digna dos 50 anos da Revolução de Abril!

Comício na Maia

Dois anos depois aqui estamos de novo! Todas as vezes em que nos chamam a tomar posição sobre o que é importante nas nossa vidas, na vida do nosso país, a CDU cá está, e nós com ela! E se cá estamos, dois anos depois de o PS e António Costa andarem a jurar-nos que agora é que ia ser, que se tivesse uma maioria para governar sem ter de contar com os votos do “empecilho” à sua esquerda, de ter de falar com os deputados da CDU, do PCP e dos Verdes, o PS subiria as pensões, solucionaria as urgências sobrelotadas do SNS e os milhões de pessoas sem médico de família, arranjaria creche para todas as crianças, faria crescer os salários e que esta seria a primeira prioridade do seu governo, o PS ia acabar de vez com a pobreza.

E viu-se! Viu-se no que deu a maioria absoluta do PS. Além das mirabolantes aventuras de muitos dos membros do Governo, uns nomeados quando já tinham processos na justiça, outros que se meteram em suficientes complicações para as passarem a ter, voltámos a ter o PS arrogante de sempre quando deixou de ter de ouvir a CDU, deixou de ouvir, de ter de ouvir, as pessoas. O PS fez aquilo que sempre fez: desiludiu, traiu as esperanças de quem nele votou julgando que o fazia em nome de valores de esquerda, da garantia das pensões ou da subida geral dos salários. Depois de encher a boca com a famosa “estabilidade” de que o PS e os partidos da direita tanto gostam de falar, sobretudo quando nos querem fazer pagar o preço da desigualdade e da injustiça – e, depois, de “estabilidade” foi o que se viu. Lembremo-nos que, se o governo caiu, foi porque Costa preferiu (ou teve) de se demitir, depois de, em dois anos de maioria absoluta, não ter resolvido coisa alguma a favor de quem trabalha, de quem precisa e tem direito ao SNS, à Escola Pública com professores e profissionais da educação em número suficiente, a uma creche gratuita, a uma casa digna que possa pagar com o produto do nosso trabalho.

É por isso que aqui estamos dois anos depois. Porque arranjar casa neste país se tornou o mais desesperante e o mais urgente dos problemas! Porque é inconcebível como, 50 anos depois do 25 de Abril, o direito a viver debaixo de um teto tornou-se num privilégio de ricos, como o direito a uma saúde a tempo e horas e a uma educação que dê acesso à formação superior que se queira – como, um a um, os direitos sociais inscrito na Constituição, que deviam fazer lei, estão a ser vividos por cada um de nós como um privilégio a que temos ou não temos acesso numa lógica crescente de desigualdade! Não há vida digna sem se ter direito a uma casa mas o que custa hoje pagar a habitação está muito acima da inflação oficial, e nem essa o Governo quis considerar quando aumentou as pensões, as prestações sociais, os salários dos trabalhadores do setor público. Viver nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa, ou em grande parte do litoral, tornou-se totalmente incompatível com os salários baixíssimos que se pagam neste país, e nem falemos no desespero que tem significado para milhares de reformados que têm sido despejados.

Como no poema de Almeida Garrett muitas vezes citado pela nossa saudosa Odete Santos, “quantos pobres são necessários para fazer um rico?” Quantos trabalhadores remunerados com um salário mínimo que, todo ele, pode não ser suficiente para pagar uma casa? Quantos trabalhadores migrantes, os portugueses que procuram numa cidade do litoral um novo emprego, os imigrantes que escolheram vir viver para Portugal mas aqui, mais explorados mais do que a maioria, têm de partilhar em condições inconcebíveis cubículos sem condições? Quantos estudantes deslocados que têm de procurar quartos a preços que os fazem hesitar entre continuar ou desistir do curso? Quantos pobres são, afinal, necessários para alimentar os ricos deste país, e aqueles que, do resto do mundo, a quem se têm aberto as portas para fazerem lucro à custa de quem aqui vive e trabalha?

Mas um problema assim não tem solução? Claro que tem, e nós, na CDU, apresentámo-la vezes sem conta na AR: habitação pública, limitação das rendas e das taxas de juro praticadas pelos bancos (12 milhões € de lucros diários da banca, e nós continuamos a pagar o que pagamos pelo crédito à habitação?), fim do desvario do alojamento para turistas e dos privilégios para os ricaços estrangeiros que compram casas para as retirar do mercado social da habitação. Que o PS e os partidos da direita tenham impedido que todas e cada uma destas soluções fossem tomadas diz tudo sobre o partido que eles tomaram. Nós tomámos o partido dos inquilinos, dos que têm de pagar juros, dos jovens e dos imigrantes, de todos aqueles que procuram uma casa digna, e dos que a querem manter sem aceitar que lhes dupliquem e tripliquem os valores da renda; eles tomaram o partido de quem quer lucrar com o desespero de todos nós.

Estas eleições são sobre quem mantém compromissos e sobre quem os rompe. Sobre quem, como nós, que põe em cima da mesa o direito que todos temos à habitação, à saúde e à escola públicas, aos transportes, e, em coerência propõe soluções que asseguram estes direitos acima de quaisquer lógicas capitalistas de mercado. Do outro lado, sobre quem, como Pedro Nuno Santos, o novo secretário-geral do PS, que disse que renacionalizaria a TAP para que ela não voltasse a ser privada e, depois de nela ter gasto 3 mil milhões de € do dinheiro de todos nós, a vai vender de novo. Há 30 anos que o PS faz o mesmo: bate com a mão no peito para jurar que defenderá o que é público, de todos, mas, depois, fazemos as contas e o PS fez o mesmo (ou pior) que o PSD e a direita quanto às privatizações. De todas as empresas públicas que sobraram das privatizações de Cavaco e Guterres, Sócrates e, logo a seguir, Passos e a Troika decidiram vender os CTT, a TAP, a ANA, as indústrias de defesa; só sobrou, por enquanto, a CP. Depois disto, só falta que ouçamos PS, PSD e, agora até o Chega na sua infinita hipocrisia, a jurar que vão proteger a educação e a saúde públicas (e o Chega prometia em 2019 privatizar ambas!), sabendo nós, contudo, que basta esta política desgraçada de deixar degradar ambos os serviços serve para alimentar a ideia de que é inviável contratar profissionais e prestar de serviços de qualidade, pelo que o melhor é desviá-los para o privado.

Hoje, é o próprio Pedro Nuno Santos que vem assegurar que não renacionalizará empresa alguma, que o que foi vendido ao desbarato aos privados, privado continuará a ser. Reconheçamos que esta, ao menos, é uma promessa que facilmente ele cumpriria se o PS voltar a ser governo.

A menos que… A menos que elejamos um número de deputadas e deputados da CDU suficiente para sejam decisivos na formação do próximo governo e para decidir a favor de quem trabalha, de quem aluga uma casa, de quem precisa de uma creche pública, de quem vê o seu magro salário perder ainda mais valor com o aumento abusivo dos preços, com a perda de direitos. É por isso que hoje aqui estamos: para nos batermos por eleger para uma AR digna dos 50 anos da Revolução de Abril! A Revolução e os valores pelos quais se bateu durante toda a sua vida uma comunista tão admirável como Margarida Tengarrinha, que morreu no passado dia 26 de outubro, e que quero hoje aqui homenagear. Aos 27 anos, ao entrar na clandestinidade, percebeu que esta fora "uma opção que eu bem sabia implicar perigos, sacrifícios e muitas renúncias, mas que significava o caminho de uma luta comum que nos unia solidariamente como parte de um todo." Percebeu e assumiu esta opção durante 20 anos, até ao 25 de Abril. Aqui estaria ela connosco, como esteve empenhadamente nos últimos 50 anos, desde que com a nossa Revolução viu concretizar muito pelo que tinha lutado!

E permitam-me homenagear igualmente Odete Santos que nos deixou há tão poucos dias, a mulher que tinha saudades do futuro e que nos lembrava que “isto não vai lá só com rebeldia”. E não, não vai. Isto só vai lá com muita luta pela defesa da nossa dignidade, dos nossos direitos, como ela aqui nos lembraria. Entre outras coisas, também só vai lá votando, elegendo tantos deputados/as da CDU quantos os que forem necessários para dar uma volta a isto! Uma volta de regresso aos valores que, ainda hoje, nos juntam a todos que aqui estamos: os do 25 de Abril, os do povo é quem mais ordena, os do país da fraternidade!

Viva a CDU!

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