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Parido Comunista Português

Intervenção de Domingos Abrantes

O anticomunismo foi e continua a ser a plataforma ideológica contra a liberdade, contra os trabalhadores, contra o regime democrático

Comício na Marinha Grande

Camaradas, Amigos!

Estamos empenhados numa campanha eleitoral que pode ter enorme repercussão na evolução da vida política nacional. O que está por decidir é sobre se as eleições de 10 de Março abrem caminho a uma política que interrompa o desastre para o qual décadas de política de direita conduziram o país, ou se se dão novos e perigosos passos para aprofundar os ataques ao regime democrático. Não há outra via, tanto mais que a direita colocou na ordem do dia, sem ambiguidades, que é chegada a hora de reformar o regime, sabendo todos o que isso quer dizer.

As eleições de 10 de Março, pelo facto de serem na altura em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril, assumirão igualmente o carácter de uma luta por Abril ou contra Abril.

Quem viveu os momentos exaltantes do derrube da ditadura, a conquista da liberdade, as transformações do país e do nosso modo de vida, o que representou como feito histórico o facto de pela primeira vez os trabalhadores, as massas populares terem tomado nas suas mãos a construção de uma nova vida, dificilmente podia imaginar que iríamos comemorar os 50 anos de Abril sob a ameaça de novos perigos, de uma enorme operação visando condenar as grandes conquistas da Revolução de Abril, uma operação assente na desvalorização, no apagamento e na negação do carácter indissociável entre o papel da resistência no passado e a natureza libertadora e emancipadora da Revolução de Abril, que foi o que foi a revolução antifascista.

Camaradas, Amigos!

Evocar a resistência ao fascismo não é só uma questão que tenha a ver com a história. Assim como não tem nada a ver com o ficarmos agarrados ao passado, como nos acusam muitos, alguns dos quais só descobriram o amor à liberdade depois de derrubada a ditadura.

Recuperar a memória da Resistência é uma tarefa inadiável que a todos obriga, porque é uma questão da maior importância para a defesa da liberdade no presente e no futuro, porque nos explica a natureza do fascismo, porque nos ajuda a entender o significado de 48 anos de vida sombria a que o povo português esteve sujeito. E também, e não é pouco, porque a Resistência é indissociável da natureza libertadora e emancipadora que assumiu a Revolução de Abril.

Tudo vai ficando distante. Não porque 50 anos seja demasiado tempo, mas porque há 50 anos que se desenvolve uma acção sistemática, e cada vez mais intensa, para fazer esquecer, e mesmo negar, que o fascismo existiu, com tudo o que isso representou: miséria, prisões, torturas, assassinatos, milhares de vidas sacrificadas.

Uma acção que tem como um dos seus suportes o anticomunismo, a desvalorização e mesmo o apagamento do facto de que a conquista da liberdade é inseparável da resistência que durante 48 anos ergueu a bandeira da esperança de que o povo português não estava condenado a viver eternamente privado da liberdade.
Os trabalhadores, o povo da Marinha Grande sabem, por experiência própria e dolorosa, o custo de se ter a ousadia de dizer não ao fascismo.

Camaradas, Amigos!

Ao longo de mais de 100 anos da história do PCP, e mesmo ainda antes da sua fundação formal, que as classes dominantes e a legião dos seus escribas nos acusam das piores vilanias, de alimentarmos projectos pérfidos, de sermos inimigos da liberdade, a nós que pagamos pesados sacrifícios pela liberdade!

Foi assim no passado, é assim no presente, e assim será no futuro imediato, porque tais campanhas de calúnias e mentiras prendem-se com o facto do PCP, desde a sua nascença, ter denunciado como iníqua uma sociedade assente na exploração dos trabalhadores e na opressão dos povos e proclamado que tudo faria para construir uma nova sociedade de progresso e bem-estar para o povo. Uma proclamação à qual nos mantemos fiéis há mais de 100 anos. 

Na actualidade, tais campanhas caluniosas e descredibilizações sem fim a que somos sujeitos têm como objectivo santificar as políticas e as alianças que têm desencadeado os ataques aos valores de Abril, ataques que se vêm desenvolvendo há várias décadas. Alianças e políticas assentes no anticomunismo como seu suporte ideológico.

Assistimos hoje a uma das mais intensas campanhas anticomunistas vividas desde o 25 de Abril, campanhas orquestradas pelas forças reaccionárias e onde não faltam traços fascistas e fascizantes, suportados em grosserias e falsificações sobre o que somos e o que queremos ser.

Há dias, durante um debate televisivo, fomos acusados por um dirigente partidário de termos cometido vários crimes depois do 25 de Abril. Isto dito por alguém que integra no seu partido, em altos cargos e como seu mentor ideológico, um fundador de uma organização bombista e terrorista que pôs o país a ferro e fogo, que cometeu vários crimes que ainda hoje se mantêm impunes.

E isto é dito, na maior das impunidades, sobre um Partido que regista um elevado número de mártires na sua longa luta pela liberdade, contra a exploração e a opressão. Homens e mulheres torturados até à morte, assassinados quando encabeçavam a luta dos trabalhadores e das massas populares, mortos no Campo de Concentração do Tarrafal e nas diversas cadeias do regime fascista.

Dos 32 antifascistas assassinados no Campo de Concentração do Tarrafal, 22 eram comunistas. Dos 222 nomes que integram o Memorial aos que morreram pela liberdade, no Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, no Forte de Peniche, a inaugurar no dia 27 de Abril, a sua grande maioria são comunistas. Não são poucos os filhos da Marinha Grande cujas vidas foram sacrificadas e cujos nomes se encontram no Memorial de Peniche.

Somos a única força política em que militantes seus foram assassinados durante a República, durante o fascismo e no Portugal de Abril. Todos mortos pela sua entrega à causa da liberdade, contra a exploração e a opressão.

Toda a vozearia anticomunista actual não é separável dos planos em fazer das comemorações do 25 de Abril a condenação da Revolução e dos seus valores e de consagração do 25 de Novembro como a data da liberdade e da democracia. 

Temos um património de luta incomparável com qualquer outra força política, um património que deve ser evocado a pensar nas batalhas do presente e do futuro. Chegou o momento de não deixarmos cair no esquecimento algumas verdades irrefutáveis.

É sabido que na altura em que teve lugar o golpe militar de 28 de Maio de 1926, que instaurou a ditadura, havia um sistema multipartidário. Que aconteceu então? Uns passaram para o campo vencedor, outros hibernaram à espera de melhores dias.

É um facto histórico de que se pode não gostar, ou até lamentar que assim tivesse sido, mas, a não ser que se queira reecrever a história, a verdade é que só o PCP não se submeteu aos ditames do fascismo. Só o PCP defendeu que não só era necessário, como era possível lutar contra o fascismo e que seria uma traição para com os trabalhadores e o povo não o fazer. E se assim o dissemos, assim o fizemos.

Como é sabido, estivemos anos e anos sozinhos na luta organizada contra a ditadura. Durante 48 anos organizámos milhares de pequenas e grandes lutas, contra a repressão, contra a exploração, pelo direito ao trabalho, pelo pão e contra a fome, pela terra a quem a trabalha, por direitos das mulheres, pela redução do horário de trabalho e direito a férias, contra a censura, pela liberdade, pela unidade antifascista, contra as guerras coloniais, pela paz e a amizade com todos os povos. Durante 48 anos nem uma só luta significativa teve lugar que não tivesse os comunistas na vanguarda.

Durante décadas a imprensa clandestina, com destaque para o Avante! – o único jornal que não foi sujeito à censura – denunciou os crimes do fascismo, esclareceu, organizou a luta da resistência. Uma luta pela qual pagámos um muito elevado preço. E que teria sido bem menor e a conquista da liberdade bem mais cedo se os amantes tardios da liberdade tivessem lutado não em part-time, mas connosco de forma continuada.

Não fora a desinformação e os preconceitos fácil seria concluir quanto mais difícil teria sido a vida do nosso povo e quanto mais longínqua teria sido a conquista da liberdade se não tivéssemos encabeçado a resistência.

Foi esta força organizada que fez dos trabalhadores a vanguarda contra o fascismo, que tornou possível transformar o golpe militar que derrubou a ditadura na Revolução Democrática e Nacional. Foi esta força organizada que impediu que o 25 de Abril se ficasse por meras mudanças políticas e mantivesse intacto o poder dos responsáveis pelo fascismo e os grandes grupos económicos, como alguns queriam. Sem ela não teria sido possível um Portugal verdadeiramente democrático. 

O que verdadeiramente se vai decidir no dia 10 de Março é saber se se criam condições para interromper o caminho de destruição de Abril, de intensificação da exploração de quem trabalha, de liquidação dos serviços sociais essenciais, do espezinhar a soberania nacional, do envolvimento de Portugal em guerras de agressão a outros povos, de amarrar Portugal ao militarismo, de silêncio cúmplice face aos crimes na Palestina, ou se abre caminho a uma política que faça dos valores de Abril a condição para a defesa da liberdade, do bem-estar dos trabalhadores e do povo. É uma verdade confirmada pela história de que não há solução do problema político português sem a CDU e muito menos contra a CDU, que integra as forças políticas mais consequentes e fieis aos valores de Abril.

Está de novo em marcha uma velha operação mistificadora cujas consequências são conhecidas, que é a evocação dos perigos da direita para apelar ao voto no PS como sendo a única força capaz de barrar o caminho às forças reaccionárias e populistas/fascistas.

Esta é uma das questões centrais da vida política em Portugal e no mundo. É preciso andar distraído  para não vermos o quanto cresceram as forças ultra-reaccionárias. Mas o crescimento das forças reaccionárias fascistas e fascizantes não são fruto do acaso, são o resultado de políticas que condenaram milhões de pessoas a uma vida sem horizontes, ao desespero, à extrema miséria, pessoas que se tornam presas fáceis de demagogos milagreiros.  

Não é prosseguindo as políticas que abrem caminho às forças reaccionárias, como tem feito o PS, que se lhes faz frente. Bem pelo contrário, a única força que, consequentemente, combate a direita e pode garantir a mudança é a CDU. A única força cuja actividade está em conformidade com o que defende e promete.

Há quem pensa que a reacção só ameaça os comunistas, há quem pense ser-lhes benéfico as discriminações a que somos sujeitos.

É tempo de se desenganarem. É tempo de acordar. O anticomunismo foi e continua a ser a plataforma ideológica contra a liberdade, contra os trabalhadores, contra o regime democrático.

No dia 10 de Março cada eleitor do campo democrático devia saber que quando o PCP, a CDU se reforçam a defesa as liberdade torna-se mais firme, as condições de vida melhoram. O inverso é igualmente verdadeiro.

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