João Andrade Santos | ÉVORA, E OS DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO

João Andrade Santos
A cidade de Évora está indissoluvelmente ligada à ideia de visita, de descoberta, de procura turística. Ponto de partida quase obrigatório do turismo na região alentejana, o rosto desta Évora que se procura é – não obstante a riqueza paisagística, patrimonial e cultural deste território – o seu Centro Histórico Património da Humanidade, que ainda hoje é a joia da coroa da indústria turística do Alentejo.
O percurso para aqui chegar fez-se em pouco mais de uma geração. Após o 25 de Abril, e o arranque de um Poder Local democrático, Évora marcou pela criatividade: o Programa de Recuperação do Centro Histórico de Évora é uma das suas marcas, que leva à declaração pela UNESCO da nossa Cidade Museu como Património da Humanidade, aos primeiros investimentos no parque hoteleiro que hoje temos, à animação de rua com “Os Povos e as Artes”, o “Viva a Rua!” e outras manifestações de qualidade, o brotar de uma geração de produtores e animadores culturais, as obras de urbanismo comercial nas zonas mais concorridas.
O fomento, a promoção e a procura turística foram crescendo ao longo dos anos em resultado daquele impulso, e de uma vontade colectiva de tirar partido dos nossos património e diferença.
Mas a noção da importância patrimonial e identitária do nosso Centro Histórico foi esquecida pelo governo da cidade nos últimos doze anos: a retirada de funções económicas (atendimento municipal, comércio de retalho, e outras), a retirada do apoio aos animadores e produtores culturais, a falta de limpeza e a degradação da paisagem urbana invadida por cablagens aéreas típicas de um terceiromundismo reles, foram retirando animação, atractividade e pessoas a este espaço. A cruzada do presidente José Ernesto Oliveira contra a isenção do IMI foi a mensagem final de desmobilização para aqueles que vivem, trabalham e querem aqui investir.

Hoje, os turistas continuam a animar as ruas do nosso Centro Histórico. Por vezes, incomodamente, parecem ser mais que os moradores. E isso faz-nos recear a perda da atractividade, a prazo, como consequência da perda da população e do comércio local, da falta de animação natural e de iniciativas de qualidade que recuperem a dignidade de locais como a Praça de Giraldo, infelizmente tão mal utilizada ultimamente em aproveitamentos menores e baixamente comerciais. Ninguém gosta de fazer turismo em cidades desertificadas, sujas, degradadas e com manifestações sem nível nos seus espaços nobres.
Estas tendências negativas têm que ser travadas e invertidas, se quisermos continuar a ter uma procura turística de qualidade que traga rendimentos às empresas e às pessoas, e ajude a financiar a manutenção e a melhoria do nosso Centro Histórico, esse capital que nos foi legado pelos que nos antecederam e que deveremos entregar valorizado àqueles que nos seguirem.
Por muitas dificuldades que se deparem à concretização de tal política, há que retomar a recuperação, a modernização das condições de vida, e o repovoamento do Centro Histórico. Para combater essas dificuldades, há que mobilizar moradores, comerciantes, empresários turísticos para colaborar nas tarefas de animação da cidade, e no que respeita à condução da política turística de Évora, sentar à mesa com a Câmara os representantes dos empresários e assim formar decisões participadas com os interessados. E, finalmente, há que compreender que a cultura vende, e que Évora tem que voltar a ser a sede de actividade dos seus produtores culturais, e da criatividade.
João Andrade Santos | Economista
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