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Parido Comunista Português

Entrevista a Paulo Raimundo

Lembras-te das circunstâncias em que te começaste a interessar pela política?

Sim, talvez assim, há duas questões, diria assim, que se cruzaram mais ou menos à mesma altura. Uma delas, a de trabalhador-estudante. Portanto, era toda a dinâmica da batalha da Associação de Estudantes, da escola da Bela Vista, em particular, e que fui arrastado para essa [luta], houve alguém que fez o papel de, entre outros, de me arrastar para isso.

Nenhum dos meus amigos de criança foi para o ensino superior. E não foi por falta de condições, intelectuais ou pessoais, ou de vontade ou de gosto.

Lá fui. Entrei nos processos eleitorais e teve uma importância extraordinária na minha formação, porque é a forma como tu – o primeiro espaço coletivo que tens de construção. Por acaso ganhamos a Associação de Estudantes, podíamos não ter ganho, teria valido a pena à mesma. Mas ganhamos. E foi uma alegria ter conseguido concretizar o programa que tínhamos, coisas, umas muito simples, outras mais exigentes, e foi essa experiência que me levou, diria assim, a perceber que a política é aquilo todos os dias.

E a outra foi, nessa mesma dinâmica, nesse mesmo período, a trabalhar, a trabalhar.

Quando tu começas a perceber – eu cheguei a receber salários em tickets de refeição – e percebes que há qualquer coisa que não está bem. Para além do salário ser muito baixo, para além de um gajo trabalhar à noite e trabalhava à noite, com toda a dureza que isso implica, receber depois em tickets de refeição é uma coisa que, convenhamos, que não era – não sei se toda a gente sabe o que são tickets de refeição, mas no fundo era como se fosse um cheque que só podia ser trocado nos restaurantes ou numa ou noutra mercearia.

E foi esse cruzamento, a ideia da possibilidade da construção coletiva em torno de questões concretas, e esse confronto com a dura realidade do trabalho que hoje, infelizmente, se mantém tal e qual, foram esses dois elementos que se cruzaram ao mesmo tempo e que me despertaram. Depois é um processo, depois, entretanto, houve alguém que me recrutou para a JCP e a partir daí...

Como é que descobriste que eras comunista?

Acho que a gente vai descobrindo isso todos os dias, vamos descobrindo todos os dias. Mas é neste confronto da injustiça, neste confronto da injustiça. Nenhum dos meus amigos, nenhum dos meus amigos com os quais eu cresci minha vida inteira, de criança, nenhum dos meus amigos foi para o ensino superior. E não foi por falta de condições, intelectuais ou pessoais, ou de vontade ou de gosto. Não foi porque a realidade não permitia que isso acontecesse. O contexto social não permitia que isso acontecesse.

A minha mãe foi servente nas obras, andou a apanhar berbigão, amêijoa e eu também com ela. O pai operário e a ser despedido, com tudo o que isso implica, não só do ponto de vista financeiro,

E esta injustiça, de quem vê a sua mãe ter que trabalhar em várias coisas muito diferentes, coisas muito duras. A minha mãe foi servente nas obras, a minha mãe andou a apanhar berbigão, amêijoa e eu também com ela. O pai operário e a ser despedido, com tudo o que isso implica, não só do ponto de vista financeiro, mas do ponto de vista emocional. As pessoas com quem cresci e as escolas onde estudei, no fundo ilustravam toda essa injustiça que infelizmente aí está, e se calhar até de forma mais agravada hoje, nos tempos de hoje.

E essa ideia da injustiça, mas também, simultaneamente, um projeto que não só responde à injustiça, como procura concretizar a justiça e o combate à desigualdade e concretizar a igualdade, foi um projeto que, naquela situação, naquele ambiente, foi muito entusiasmante. Foi uma descoberta que eu não conhecia. E estamos todos os dias a crescer, nesse sentido.

Essa decisão de deixar de ser carpinteiro e passar a ser funcionário do Partido foi nesse quadro?

Eu antes de vir a funcionário do Partido ainda passei por uma outra experiência profissional. Foi essa da qual eu abdiquei, para vir para funcionário do Partido. Fui animador cultural na Bela Vista, para crianças do bairro da Bela Vista. Experiência extraordinária. Nós íamos supostamente com a ideia de ensinar as crianças a fazer isto ou fazer aquilo, mas quem aprendíamos todos os dias éramos nós com as crianças. Uma coisa extraordinária, momentos emocionantes que levarei para o resto da minha vida. E, portanto, foi uma decisão que não foi fácil.

Fui animador cultural na Bela Vista, para crianças do bairro da Bela Vista. Experiência extraordinária. Nós íamos supostamente com a ideia de ensinar as crianças a fazer isto ou fazer aquilo, mas quem aprendíamos todos os dias éramos nós com as crianças. Uma coisa extraordinária, momentos emocionantes que levarei para o resto da minha vida.

No fundo, havia ali um apelo, um chamamento à batalha política diária, à construção partidária e acabei por corresponder a esse apelo, diria assim, mas para isso tive que abdicar desta outra experiência, uma experiência rica, do qual guardo muito boas memórias e que tive o prazer de revisitá-las, algumas, quando estive lá no ACM, talvez há uns meses, a visitar as novas instalações, contactar com pessoas, algumas delas que ainda lá estão da altura em que eu estava lá a trabalhar. Portanto foi mais, foi uma decisão – não foi fácil, a decisão que tomei, a opção que tomei, mas estou naturalmente orgulhoso e contente com a opção que fiz.

Estás a dizer que não esqueces algumas experiências da Bela Vista e desse contacto com as crianças. Podias dar exemplos?

Olha, por exemplo, por exemplo, nós tínhamos uma... eu fazia lá muitas coisas. Uma delas era ginástica com a crianças. Introdução à ginástica, vamos dizer assim. E havia uma altura em que elas, de facto, eram todas iguais. Era quando entravam e tinham de descalçar todas os sapatos. Ninguém podia ir de sapatos. E então, como havia – só dar um exemplo – como havia uma série de crianças que tinham as meias rotas, a partir daquela constatação eu passei a dizer assim: não, é descalço, sem sapatos e sem meias! Que era para eles sentirem que são todos iguais, porque havia uns que se sentiam constrangidos por terem as meias rotas, e não tinham outras, só tinham aquelas, não é? E esse tipo de coisas, diria assim, eu ensinei-lhes alguma coisa com esta atitude? Eu acho que sim, mas a forma como eles estavam... é claro, aquilo era a aula de ginástica, supostamente deviam levar uns ténis, um fato treino, levavam o que tinham, não é? Tenho uma imagem viva de um miúdo pequenino, claro, com umas botas, umas botas daquelas de biqueira de cowboy para aí três ou quatro números acima do pé dele, e portanto... mas lá estavam todos, naquela altura eram todos iguais: sem meias, sem ténis, sem sapatos, sem meias, descalços. E essa é uma imagem extraordinária.

Ou então coisas que nós fazíamos ali. Tínhamos ali um protocolo com a escola primária da Bela Vista e também lá ia, também lá ia. E uma das coisas que fizemos foi para o Carnaval, umas máscaras, umas coisas, fizemos umas máscaras, e ver a alegria daqueles miúdos quando eles percebem que começámos com encher um balão, depois fomos pondo papel na cola, e depois ao fim de um mês a alegria dos miúdos perceberem que aquilo no fundo deu tudo numa máscara para cada um... parece que estou a ver o sorriso dos putos, dos miúdos. Pá, é uma coisa... pronto, são esse tipo de pequenas experiências que ficam e que marcam.

O que é que te ensinou ser funcionário do Partido?

[como funcionário do Partido tive] uma envolvência no trabalho com outros, no compreender que nós somos todos humanos, com defeitos e virtudes, que não pensamos todos da mesma maneira

Olha, ensinou-me que nós podemos sempre perder mais. Essa é a primeira. Eu sou o que sou hoje, há uma parte do que sou hoje, a forma de estar na vida, daquilo que [é] a forma como olho para o mundo, a forma como é o meu dia a dia. Uma parte disso devo-a ao Partido, devo-a ao Partido e em grande medida, o facto de ser funcionário do Partido, com uma intensidade muito grande desse ponto de vista, de uma envolvência no trabalho com outros, no compreender que nós somos todos humanos, com defeitos e virtudes, que não pensamos todos da mesma maneira, ao contrário daquilo que se diz para aí, não pensamos todos da mesma maneira, diria assim, essa ligação com os outros, essa relação com os outros, daquilo que nós damos e que aprendemos, talvez seja o aspeto mais importante disto. E, claro, com um objectivo político em comum, com um ideal em comum e com um espírito de dedicação e sacrifício em comum, em prol da maioria, em prol dos trabalhadores, em prol do nosso povo, que é para isso que cá andamos. Mas, é como digo, a relação, a ligação às pessoas, aos seus problemas, às suas questões de vida, à vida real, o que nós damos e acima de tudo, o que nós aprendemos, olha, é aquela máxima do “aprender, aprender, aprender sempre”, aí está todos os dias. Foi assim, é assim, e espero que assim continue.

Há cerca de um ano que és o Secretário-Geral do PCP. O que é fazes?

Faço o mesmo, faço o mesmo. Uma grande entrega, uma grande dedicação. Uma grande responsabilidade e uma maior exposição mediática. Essa talvez seja a questão completamente nova. É claro que eu não estou a dizer que ser Secretário-Geral do Partido, ser Secretário-Geral do PCP, é igual a ser um militante de base, não é nada disso. Tenho consciência das responsabilidades e do que é que isso implica. Tenho consciência do papel que tem um Secretário-Geral que é "só" o Secretário-Geral do Partido Comunista Português, mais nada, entre aspas, tenho a consciência disso. Mas o meu dia a dia é marcado por aquilo que fazia: dedicação, ligação aos problemas, estar lá onde as pessoas estão, denunciar a injustiça e a desigualdade, denunciar as políticas que dão corpo a essa injustiça e a essa desigualdade, lá está, com uma diferença grande, com duas diferenças: uma, agora com a responsabilidade de Secretário-Geral; e a outra com uma exposição mediática maior do que aquela que tinha e que nunca pensei vir a ter.

E nesses contactos que fazes como Secretário-Geral, o que é que te impressiona mais?

Há várias coisas e há uma que até vou partilhar em primeira mão. Tenho andado em muitos Centros de Saúde, muitos, em contacto com aquela gente toda: não consegue médico, não consegue consulta, em que há 20 senhas para aquele dia de consultas quando as pessoas são 60, 70, 80 pessoas nas filas. Muito por aí, no Barreiro, em Lisboa, no distrito de Santarém, em vários, vários sítios, talvez mais de dez ou 15 locais onde já fomos. Sítios diferentes, pessoas diferentes, realidades diferentes.

quando nós vamos uma vez ficamos impressionados, quando vamos duas, achamos que aquilo é demais, e quando começamos a ir muitas vezes, há uma altura em que é um bocadinho angustiante, no sentido em que os problemas são aqueles, as pessoas estão ali e nós vamos lá dar confiança, vamos lá denunciar a situação, com todo o nosso empenho, com todo o nosso espírito de sacrifício, também, para ali estar, para partilhar aquela realidade, mas nós depois saímos e a pessoa fica lá à mesma na fila à espera da consulta

Mas os problemas são exatamente os mesmos. Lá está, gente, às vezes, muito doente, muito idosa que passa 10h, 12h, 15 horas na fila, primeiro da fila para ter direito àquela consulta. Gente que vai porque precisa de uma baixa médica, gente que vai para arranjar uma consulta para os seus pais, para os seus sogros, pessoas que já não estão em condições de ir para aquela situação. É uma situação muito desesperante. E qual é – daí chegar à pergunta que fizeste – quando nós vamos uma vez ficamos impressionados, quando vamos duas, achamos que aquilo é demais, e quando começamos a ir muitas vezes, há uma altura em que é um bocadinho angustiante, no sentido em que os problemas são aqueles, as pessoas estão ali e nós vamos lá dar confiança, vamos lá denunciar a situação, com todo o nosso empenho, com todo o nosso espírito de sacrifício, também, para ali estar, para partilhar aquela realidade, mas nós depois saímos e a pessoa fica lá à mesma na fila à espera da consulta e a nossa ida, diria assim, acho que é importante, muito importante, para denunciar a questão, como disse, para fazer valer os direitos daquelas pessoas, mas no minuto a seguir, o problema mantém-se tal e qual, aquele problema mantém-se tal e qual. É claro que nós estamos empenhados em resolvê-lo de vez, com outra política, outras respostas, outro investimento, mas aquele momento, naquele momento essa é uma angústia.

Outro exemplo semelhante a esse, numa visita que fiz aqui perto, num conjunto de habitações, em torno de uma iniciativa do acesso à habitação, às condições de habitação, onde alguém teve a coragem, a vontade e o gosto, [e] eu tive o privilégio de visitar a casa desse casal, um casal com dois filhos pequenos, numa casa completamente sem condições de habitabilidade nenhumas, com uma humidade brutal, apenas uma divisão da casa estava em condições de ser habitada. E é um choque. É um choque, porque ninguém pode ficar indiferente a uma coisa daquelas. Já seria assim para duas pessoas, com duas pessoas e duas crianças ainda pior. Cada um sabe de si, eu lembro-me logo dos meus filhos. É daquelas coisas, e lá está, as pessoas receberam-nos com tudo o que tinham e o que não tinham para nos receber, mostraram-nos a sua privacidade, no fundo, foi isso, mostraram-nos as condições em que viviam, e no minuto em que nós nos vamos a despedir, a senhora, e nunca mais me esqueço, disse “faça lá alguma coisa por nós”. E nós vamos fazer. Estamos a fazer todos os dias alguma coisa por aquela pessoa, por aquelas pessoas, também, por cada um de nós, e por aquelas pessoas também.

Mas o que é certo é que quando eu saí daquela porta, todas as manchas de humidade, toda a humidade estava na casa permaneceu tal e qual. Isso são coisas que de facto, que marcam, que eu acho que marcam. Nós estamos empenhados em que aquelas pessoas e todos nós tenhamos uma vida melhor, e isso também são elementos em que é preciso continuar a insistir. Mas o que é um facto é que naquele segundo, quando eu saí daquela porta, a situação ficou tal e qual. Custa, não é? Dói, dói um bocado. Ora, isto não nos retira a confiança, pelo contrário, só dá é mais razões para continuarmos a lutar e exigir, a denunciar, mobilizar, a esclarecer. Aliás, neste caso em concreto, já houve até um conjunto de outras ações, iniciativas, ações de luta, populares também, entre outras questões gritantes da habitação. Dá-nos confiança, mas não deixa de ser um soco no estômago naquele momento, um soco no estômago, disso não tenhas dúvidas.

e no minuto em que nós nos vamos a despedir, a senhora, e nunca mais me esqueço, disse “faça lá alguma coisa por nós”. E nós vamos fazer (…) vamos continuar a insistir. Mas o que é um facto é que naquele segundo, quando eu saí daquela porta, a situação ficou tal e qual.  não deixa de ser um soco no estômago naquele momento

O que é que partilhas em relação a essas pessoas? A tua situação de vida é parecida com a dessas pessoas?

Talvez haja um aspeto que tem a sua importância, acho que não é o decisivo mas tem a sua importância. Nós não falamos de cor dos problemas. Nós sentimos os problemas e vemos os problemas, e a realidade tal e qual como ela é, tal e qual. Vou dizer assim: faço parte do clube daqueles 3 milhões de trabalhadores que ganham até 1.000 € de salário bruto por mês. E portanto quando falo das dificuldades da vida, quando falo dos impactos do que é que significa este brutal aumento das taxas de juro nas prestações e nas rendas, não estou a falar em nome dos desgraçadinhos, estou a falar em nome próprio também das dificuldades, também têm implicações na minha vida, todos os dias.

Quando se fala do aumento do custo de vida, quando a gente sabe todos que vai ao supermercado e que traz duas coisas gasta 20€ e nem sabe como, não é? Não é de me contarem, é da vida, da minha vida também ser assim. Quando se fala do aumento das questões do gás... ainda no outro dia, ali na bomba de gasolina onde vou buscar a minha bilha de gás, dizia eu para o homem, “então, isto não para de aumentar”, e ele dizia-me assim, “sabe como é que é, aproveitam-se que agora é inverno e a malta gasta mais gás”. É disto, é disto que estamos a falar, portanto não se fala de cor dos problemas. Fala-se de vida, da vida vivida, a experiência é a mesma, e no fundo, é assim, também há aqui um certo egoísmo no meio disto tudo, porque quando se exige e quer-se lutar por uma vida melhor para todos, também se está a exigir – eu também quero viver uma vida melhor, naturalmente, e essa é uma questão de grande importância. Não se fala de cor dos problemas.

Nós não falamos de cor dos problemas. Nós sentimos os problemas e vemos os problemas, e a realidade tal e qual como ela é. (…) e portanto quando falo das dificuldades da vida, quando falo dos impactos do que é que significa este brutal aumento das taxas de juro nas prestações e nas rendas, não estou a falar em nome dos desgraçadinhos, estou a falar em nome próprio também

A realidade da vida, a realidade de todos os dias, aquela que a larga maioria do nosso povo e dos trabalhadores enfrentam, é aquela que nós enfrentamos, é aquela que eu, de forma muito particular, aquela que eu também enfrento.

Mas essa escolha do PCP em ter funcionários em condições iguais ao resto da maioria não é uma escolha um bocadinho contraditória?

Pelo contrário, corresponde exatamente... lá está, nós não falamos de cor dos problemas. Quando as pessoas vão para as filas de espera para arranjar consulta, nós também estamos lá. Quando as pessoas se queixam do aumento do custo de vida, como estava a dizer há bocado, nós também nos queixamos, mas não é por ouvir falar, é porque também o sentimos. De cada vez que há um espirro do BCE, nós aqui ficamos todos com gripe com o aumento das taxas de juro e as implicações no aumento das rendas. Quando se quis agora travar este aumento das rendas para 7% não é só porque ai ai ai que há umas pessoas que vão ficar à rasca. Não! Ficam essas e ficamos nós também. Portanto, esta ideia de nós não falarmos de cor dos problemas tem muito significado, não só não é contraditório, como nos dá, diria assim, nos obriga a uma ligação à realidade, que é a realidade da maioria da população.

a gente sabe todos que vai ao supermercado e que traz duas coisas gasta 20€ e nem sabe como, não é?

Se a realidade da maioria da população fosse diferente desta, aí é que nós estávamos em contradição. Assim, não. É uma opção, lá está, é uma opção que não é uma opção económica, é uma opção política e ideológica.

Achas que perante as sondagens que se veem, a alteração do clima político, o PCP está em risco de desaparecer?

O PCP tem mais de 100 anos. O PCP tem mais de 100 anos e até enfrentou um largo período da sua vida em que nem sequer podia haver eleições. Portanto, isso não. Enquanto houver injustiças e desigualdades, enquanto houver exploração, enquanto houver, lá está, 3 milhões de trabalhadores, os que cá vivem e cá trabalham, que ganham até 1.000€ de salário bruto por mês, enquanto uma parte significativa do nosso salário for para pagar as rendas, enquanto houver esta injustiça, enquanto houver este confronto entre estes 3 milhões de trabalhadores e os 25 milhões € de lucros por dia que os grupos económicos têm, ou os 7% de aumento das rendas para o próximo ano, ou os 12 milhões € de lucros por dia da banca, enquanto nós pagamos tudo e um par de botas, enquanto houver esse confronto e essa realidade, o PCP não vai, não vai deixar de existir, porque faz falta, faz falta aos trabalhadores, faz falta ao povo e fazendo falta aos trabalhadores e ao povo, o povo nunca vai permitir que isso aconteça.

Isso é uma questão. A segunda questão é a questão das sondagens. Se há coisa que não tem corrido bem ao longo dos tempos é as sondagens. Falham sempre e vão falhar outra vez. É uma evidência. Falharam em 2022 nas eleições, onde nós nos lembramos todos que a certa altura parecia que o PSD ia ganhar ao Partido Socialista, e o resultado final foi maioria absoluta do Partido Socialista. Essa foi logo a primeira. Têm falhado um pouco por esse mundo fora. E falharam agora há pouco mais de um mês, falharam há pouco mais de um mês, quando todas as sondagens também diziam que o PCP e a CDU iam desaparecer na Madeira, que íamos perder outro deputado, íamos desaparecer. E depois o povo da Madeira, e bem, decidiu que não era assim. Decidiu dar mais força ao PCP e à CDU, decidiu dar mais votos, dar mais percentagem, e decidiu pôr o PCP mais perto do objectivo que tínhamos que era a eleição do segundo deputado, ora, coisa que vamos recuperar nas próximas eleições. E portanto, as sondagens, todas essas operações é coisa que não nos incomoda, mas é que não nos incomoda mesmo, sinceramente, não nos incomoda, não nos tira o sono.

A vida está injusta mas o PCP também já teve mais força. No entanto, a vida está injusta. Como é possível esta contradição?

Não, não há nenhuma contradição, nenhuma contradição. A gente pode olhar para isso de duas formas: é procurar encontrar uma razão para, do ponto de vista eleitoral, o PCP e a CDU terem tido, por questões objetivas, termos diminuído, não há nenhuma dúvida. Se nós perdemos votos, perdemos percentagens, perdemos deputados, é porque se diminuiu, não há nenhuma dúvida. Podemos procurar uma razão para isso. Ou podemos procurar um conjunto de vários fatores. E a vida é injusta. A gente precisa todos de uma vida justa para combater esta vida injusta de que estamos, [que] temos todos os dias. Mas também não se pode menosprezar que o PCP tem sido saco de pancada, a propósito de tudo e mais alguma coisa. Ora esse saco de pancada também tem os seus efeitos, também tem os seus efeitos.

ali na bomba de gasolina onde vou buscar a minha bilha de gás, dizia eu para o homem, “então, isto não para de aumentar”, e ele dizia-me assim, “sabe como é que é, aproveitam-se que agora é inverno e a malta gasta mais gás”

Mas, vou-te dizer sim, nós estamos muito confiantes, confiantes para as batalhas políticas e para a resposta que estamos a ter nas pessoas, para o contacto que estamos a realizar nas empresas, junto aos Centros de Saúde, nos locais de trabalho, nas ruas, nas questões da habitação, nas respostas que o povo, a população está a dar, os trabalhadores na sua resposta de luta, coisas, de facto, de grande significado. As grandes ações promovidas pelo movimento sindical, pela CGTP, nas empresas, na exigência do aumento dos salários, pelas populações na exigência do direito à habitação, pelas populações e pelos utentes na defesa do Serviço Nacional de Saúde. São esses elementos que nos dão muita, muita confiança. Eu estou certo, estou certo e confiante que isso também vai ter expressão do ponto de vista eleitoral.

Não há alternativa. Vai ter expressão do ponto de vista eleitoral, com duas vantagens, com dois elementos centrais no meio disto, que é: nós queremos que o PCP e a CDU se reforcem, do ponto de vista eleitoral. Lá está, queremos ter mais votos e vamos ter mais votos, queremos ter mais percentagem e vamos ter mais percentagem. E queremos ter mais deputados e vamos ter mais deputados. Isso para nós é importante, mas a questão decisiva disso não é importância para o PCP e para a CDU. A questão decisiva disso é que isso é fundamental para a vida das pessoas. É fundamental para os trabalhadores, é fundamental para as populações, é fundamental para todos aqueles que anseiam uma vida melhor, uma vida justa, naturalmente. Porquê? Porque a diferença entre haver mais ou menos deputados do PCP ou da CDU na Assembleia da República é que fará a diferença para o dia seguinte às eleições. Nós temos utilizado uma expressão que talvez seja muito clara sobre isso: é que deputados para defender a banca, os tais 12 milhões € de lucros por dia da banca, deputados para defender os grandes grupos económicos, os tais dos 25 milhões€ de lucros por dia, isso já é já há demais na Assembleia da República. Nós precisamos é de mais deputados para defender os trabalhadores, para defender as populações, para defender aqueles que não conseguem ter acesso ao Serviço Nacional de Saúde, para defender aqueles que fazem tudo e estão a abdicar de tudo, isto não é falar de cor, estão a abdicar, senão de tudo, de muita coisa, para conseguirem manter a sua prestação, a sua renda da casa. E o que toda esta gente precisa é que o PCP e a CDU tenham mais votos, mais expressão eleitoral e mais deputados. Isso é que fará a diferença.

Quando as pessoas vão para as filas de espera para arranjar consulta, nós também estamos lá.

Por falar em saco de pancada: às vezes, não ajudam a ser saco de pancada, no sentido em que ninguém percebe a posição do PCP sobre a invasão Ucrânia?

Nós seremos sempre o saco de pancada por uma razão simples: porque nós escarafunchamos lá onde dói. Nós vamos ao centro de onde dói.

Onde é que dói na posição da Ucrânia?

Então eu não vou fugir à pergunta nós vamos lá ao centro onde é que dói. Porque há aí uns que enchem o peito, com teorias de não sei quê, que a culpa é do estado, a culpa é do vizinho, há sempre culpados para tudo menos os verdadeiros culpados. Porque se nós chegámos ao que chegámos, à situação em que chegámos, isto tem dois responsáveis: os interesses, os lucros e a acumulação de riqueza dos grupos económicos, e a política que o que faz é dar resposta a esses interesses. Esta é que é a grande questão. Portanto, nós seremos sempre, em qualquer circunstância, saco de pancada porque nós vamos lá onde dói. Aqueles que falam de alto, enchem o peito cheios de verdades, verdades absolutas, encontram sempre justificações laterais, esses não só não serão saco de pancada, como serão levantados sempre, serão sempre postos lá em cima. Nós estamos bem com isso.

De cada vez que há um espirro do BCE, nós aqui ficamos todos com gripe com o aumento das taxas de juro

Sobre a questão da guerra, da guerra da Ucrânia. Passado este tempo todo, eu acho que há uma coisa que é uma evidência. Por incrível que isto possa parecer, o PCP mais uma vez tinha razão. Mais uma vez tinha razão. O que é que nós dissemos na altura? Dissemos assim, três coisas: que aquela guerra não tinha começado naquele dia, não tinha começado a 24 fevereiro. Teve um momento de escalada de grande dimensão naquele dia. Segundo: que os intervenientes na guerra não eram apenas a Rússia e a Ucrânia, para lá desses intervenientes, objetivos, havia mais, nomeadamente, a NATO, os Estados Unidos e a União Europeia. E que o caminho que se impunha era travar uma guerra que nunca devia ter começado. E travá-la no dia a seguir, uma guerra que nunca devia ter começado. Eu sei que aqueles que são apologistas de mais armas para a guerra, mais gasolina em cima da fogueira, que dormem, diria assim, que dormem bem com os milhares e milhares e milhares de mortos naquela guerra, com os milhares e milhares e milhares de quilómetros quadrados destruídos naquela guerra, para esses, a solução é: mais guerra, mais morte, não interessa, há um objectivo qualquer, mais guerra mais morte. Para nós, que sempre defendemos a paz, sempre achamos que aquela guerra podia ter sido evitada e nunca devia ter começado, continuamos firmes nesta ideia. Pela paz, pela paz e não nos arrastam para a posição da guerra.

Não se pode menosprezar que o PCP tem sido saco de pancada, a propósito de tudo e mais alguma coisa. Ora esse saco de pancada também tem os seus efeitos

E talvez hoje haja aqui um elemento que torna isto mais evidente, que é a guerra na Palestina. A guerra na Palestina veio evidenciar muitas coisas, muitas coisas. Mas talvez tivesse trazido ao de cima toda a hipocrisia, todo o cinismo, toda a arrogância daqueles, esses sim, que perante a guerra na Ucrânia têm uma posição, e perante a guerra, perante o massacre ao povo palestiniano, têm outra posição. Aqueles que se levantaram imediatamente a condenar e a sancionar a Rússia. E aqueles que, perante o massacre em curso ao povo de [palestiniano] é só palmadinhas nas costas ao governo de Israel. Ora, é uma situação hipócrita, cínica, arrogante e a qual nós não, naturalmente, não acompanhamos. Uma coisa que está clara: nós somos pela paz, faremos tudo o que estiver ao nosso alcance pela paz, não nos arrastam para posições de guerra, não nos arrastam para posições de guerra, e, passado este tempo todo, a evidência é que a solução da guerra não resultou em nada. Só resultou em mais mortes, mais destruição. E o que é preciso é que os governos todos sejam apertados, sejam pressionados para, lá está, para que esses governos todos também se imponham para obrigar os intervenientes da guerra a virem para a paz, que é isso que os povos precisam.

O PCP participou numa solução popularmente chamada de “geringonça”. Voltariam a fazer aquela solução? Não acham que não foi muito feliz a forma como conseguiram conviver com aquilo? No sentido em que não apostaram no movimento de massas, nem na reivindicação sindical, e deixaram, enfim, no final de tudo o PS com maioria absoluta?

Aquilo que aconteceu em 2015, para já, nós não acompanhamos essa palavra “geringonça”, diz-se que ela foi popularmente conhecida por esse nome, mas esse nome não é indiferente, porque ele procura traduzir uma ideia e procura traduzir uma realidade que nunca existiu. O existiu a partir de 2015 foi um governo minoritário do Partido Socialista, um governo minoritário do Partido Socialista, lá está, condicionado pela correlação de forças que havia na Assembleia da República, nomeadamente, com os deputados do PCP, o número de deputados do PCP e da CDU. Ora aquela arrumação que se encontrou teve um objetivo fundamental, e objetivo central de toda aquela arrumação, foi afastar do poder o PSD e o CDS, um Governo desastroso para o nosso país e, já agora, um Governo desastroso para o nosso país levado a cabo pelo PSD e pelo CDS. Estamos todos lembrados desses tempos e que na altura, quer no PSD quer no CDS, estavam, nalguns casos, uma parte importante dos atuais protagonistas de outras forças que agora se dizem muito interventivas. Mas estavam lá todos na altura a cortar salários, a cortar pensões, a cortar subsídios de Natal, a empurrar o país completamente para baixo.

Portanto, o primeiro objetivo daquela arrumação foi afastar o PSD e o CDS do Governo. O segundo objectivo: há ou não há condições para um trajeto de recuperação daquilo que tinha sido roubado? E assim foi. E assim foi. Foi assim porque o PS estava pressionado numa correlação de forças que o obrigou a ter que ir mais longe do que aquilo que gostaria. Foi por isso que foi possível os manuais escolares gratuitos. Foi por isso que foi possível, olha, até recuperar os feriados que tinham sido roubados, recuperar direitos que estavam em cima da mesa, acabar com o PEC para as micro, pequenas e médias empresas. Introduzir o passe nas áreas metropolitanas, com o que isso implicou de redução brutal de custos para as pessoas. Foi assim na recuperação lenta, insuficiente, mas de salários na administração pública, de direitos, que foi possível fazer isto tudo com uma questão [que] para nós estava sempre clara, desde o início: é que o PS é o PS, e as opções de fundo do Partido Socialista não eram aquelas, não eram aquelas, e portanto, não tínhamos nenhuma ilusão, havíamos de chegar a um momento em que o PS ia tomar a sua opção de fundo.

nós estamos muito confiantes, confiantes para as batalhas políticas e para a resposta que estamos a ter nas pessoas, para o contacto que estamos a realizar (…) não há alternativa. Vai ter expressão do ponto de vista eleitoral

Ora, isso aconteceu quando? Isso aconteceu em 2001, quando o PS apresentou um orçamento, diz que aquele é o orçamento mais à esquerda de sempre, mas que na prática havia outras questões que eram essenciais. Já na altura o era, já na altura o era, e agora continuam a ser. Três questões fundamentais que queriam passar completamente ao lado: o reforço do Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente, com a fixação dos profissionais, condições para fixar os profissionais, os médicos, enfermeiros, técnicos. Era uma questão que estava na cara que estava aí a rebentar. As questões dos salários, nomeadamente, quer pela via direta do aumento do salário mínimo, quer pela via do aumento do salário mínimo e dos salários da administração pública, quer por revogar a caducidade da contratação coletiva, permitindo ao setor privado que eles também subissem. E nas questões da habitação. Era uma evidência que era uma questão de tempo até rebentar como está a rebentar.

Ora, o PS o que é que fez? Vestiu a camisola do orçamento mais à esquerda de sempre. Não respondeu a nenhuma dessas questões que nós colocámos. Fez a chantagem, vitimizou-se, disse ai ai ai, fomos traídos, blá-blá-blá, vitimizou-se, fez a chantagem, fez a pressão. Com a anuência e o contributo do Presidente da República fomos para eleições antecipadas e o PS apanhou-se com a sua maioria absoluta.

E o que é que fez para resolver qualquer uma das três questões que tinham sido levantadas? Zero. Todos os problemas que identificamos estão piores do que aquilo estavam. Portanto, o problema não era, ou seja, a maioria absoluta não só não resolveu nada, como acentuou os problemas. E há muito boa gente que foi iludida nesse processo, que foi arrastada nesse processo e percebe hoje as razões pelas quais o PCP nunca poderia acompanhar um orçamento daqueles.

Essa é a questão fundamental. Foi arrastada, foi iludida, foi enganada. Nalguns casos foi enganada, e sente-se, até alguns sentem-se justamente frustrados e traídos com aquela posição do Partido Socialista. Porque, no fundo, o Partido Socialista, por sua opção própria, e mais nada, decidiu, lá está, olha, decidiu afirmar a sua opção de fundo, esse é que é o grande problema.

Portanto, nós não só não estamos arrependidos, como aquilo que fizemos, fizemos bem, fizemos bem. A situação de hoje é diferente, porque nós temos duas coisas diferentes. Temos muitas coisas diferentes, mas há duas em particular. A primeira, é que não temos esta questão de colocar o PSD e o CDS para fora do Governo, não se coloca. E depois temos outra, que é dois anos de experiência da maioria absoluta do Partido Socialista. Com tudo na mão, um governo de maioria, excedente orçamental, dinheiro, tudo na mão, no fundamental, aquilo que procurou dar resposta foi aos interesses dos grupos económicos. E é por isso que nós temos 2 milhões de pessoas, agregados familiares à rasca para aguentar a casa, milhares de micro, pequenos e médios empresários aflitos para aguentar o seu negócio, lá está, a banca tem, como vimos, esses tais 12 milhões € de lucros por dia.

A questão decisiva [do reforço do PCP e da CDU] não é importância para o PCP e para a CDU. A questão decisiva disso é que isso é fundamental para a vida das pessoas. É fundamental para os trabalhadores, é fundamental para as populações, é fundamental para todos aqueles que anseiam uma vida melhor, uma vida justa

Isto não foi por acaso, não aconteceu por acaso. Não é o mercado a funcionar. Não: é a política em função do mercado. Estes dois anos de experiência do Partido Socialista revelam bem as opções que tomou, para quem servem as políticas e as opções que toma, e, portanto, perante, ponho assim – vocês vão fazer uma aliança para seguir esta opções? Não, connosco não. Isso é uma evidência. Connosco, não. Para isso, não obrigado, já chega, já basta assim. E quem quiser, quem quiser eleger deputados para continuar esta política, para continuar a política ao serviço dos tais dos 25 milhões € de lucros por dia, tem uma palete muito grande de opções para fazer. Quem quiser travar este caminho, abrir um caminho novo, que responda ao aumento dos salários e das pensões, que responda a esta premência e esta urgência de responder ao Serviço Nacional de Saúde, que responda às necessidades de habitação, e habitação condigna, que seja possível pagar, que seja condigna, que responda aos direitos dos pais e das crianças, que responda, de facto, ao problema da corrupção e ao compadrio e às negociatas, desde logo travando as privatizações, quem quiser isso, quem quiser uma vida melhor, abrir esse caminho, então pode depositar esse voto com confiança na única força de confiança para isso, que é o PCP e a CDU.

Porquê perante esta situação toda que denunciou, o PCP parece que deixou de ser o lugar do protesto, e pelo menos atendendo às sondagens, temos a extrema-direita a crescer?

O PCP é a força de protesto. É no PCP, força de protesto, de indignação, mas também de construção de soluções e de esperança. Ou seja, o protesto que se exprime no voto também no PCP... As pessoas estão justamente indignadas. As pessoas são maltratadas todos os dias. Não vale a pena, quer dizer: um mês tão grande para o salário que têm. Umas pensões de miséria. Nós temos 72% dos pensionistas que ganham até 500€ por mês. Cada um que faça as contas para fazer como é que fazia a sua vida com essa realidade. Pessoas que vão para as filas dos Centros de Saúde e não conseguem consultas, que não têm respostas públicas aos seus problemas, 2 milhões de pessoas na pobreza, das quais largos milhares, mais de 200 mil são crianças. Ora, qual é a opção que as pessoas têm? Têm justas razões para estarem zangadas, indignadas, sentem-se traídas e desacreditadas, e desacreditam em tudo. Depois, para além disso, todos os dias é casos atrás de casos disto, daquilo, de tráfico de influências, de telefonemas, de almoços, de corrupção, é tudo isto. Ora as pessoas desacreditam, justamente estão indignadas.

Ora, e perante isso só têm duas hipóteses, ou têm três, vá: ou desacreditam e desacreditam e fazem vida o melhor que podem, o melhor que conseguem, não têm participação, intervenção política. Ou optam por votar em forças que, no fundo, exploram cada um desses problemas até ao limite, não para os resolver, não para os atacar, mas para se promoverem, e lá está, para cumprir o papel que o capital lhes disser que têm que cumprir. E esse voto é um voto de protesto sem nenhuma consequência. Ou, então, têm a terceira oportunidade que é apoiar a CDU, lá está, e o PCP. O voto de protesto, o voto que deve refletir a justa indignação, mas simultaneamente, o voto que dá força àqueles que vão à raiz do problema, vão à raiz dos problemas. Como disse há pouco, o problema, os maus não estão todos no Estado, nem estão no nosso vizinho, no nosso colega de trabalho, ou na pessoa que está no café connosco. Não, os maus, o problema central que é preciso resolver e aquilo que é preciso atacar para combater a injustiça e a desigualdade, é optar por uma política que não esteja ao serviço dos grupos económicos, que [é] aquilo que temos tido.

Deputados para defender a banca, os tais 12 milhões de eurosde lucros por dia da banca, deputados para defender os grandes grupos económicos, os tais dos 25 milhões de euros de lucros por dia, isso já é já há demais na Assembleia da República

E a única força que vai a esse centro, vai ao centro do problema, é o PCP e a CDU. Com uma questão que, já agora sublinhava, que é força de protesto, de indignação, é na CDU e no PCP que se deve exprimir também esse voto de protesto e de indignação, que simultaneamente é um voto de esperança. É um voto de esperança.

Nós não queremos os votos para ficar todos contentes com eles. Nós queremos os votos para abrir um caminho novo que responda ao problema das pessoas e dos trabalhadores. É para isso que serve, não é para mais nada, não é para ficarmos todos contentes. Éramos três, passamos a quatro. Isso não interessa, tem importância, mas é tudo muito relativo.

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O que é que diria a um eleitor do Chega?

Eu não confundo a força, essa força, os seus propósitos, seus objetivos, o seu papel, o papel que tem, essa força que se alimentou e foi alimentada durante estes anos de forma vergonhosa.

Há aí uns que enchem o peito, com teorias de não sei quê, que a culpa é do estado, a culpa é do vizinho, há sempre culpados para tudo menos os verdadeiros culpados. (…) esses não só não serão saco de pancada, como serão levantados sempre, serão sempre postos lá em cima

E o Partido Socialista tem muita responsabilidade nisso. Passou dois anos de forma descarada a alimentar e a alimentar-se dessa força, dessas forças. Mas eu não confundo os propósitos dessas forças com as pessoas que, por esta ou aquela razão, pensam em apoiar eleitoralmente essa força. São duas coisas completamente distintas. E as pessoas que já lhes passou pela cabeça, eventualmente, apoiar essa força política, são pessoas que o seu voto seria bem melhor empregue, em muitas circunstâncias, naquela força de confiança, na força de protesto, na força de indignação, mas na força de esperança e de abrir um caminho novo, que é aquilo que nós, o país, precisa. E é aquilo que essa força não promoverá, pelo contrário. O Chega e a Iniciativa Liberal vêm os dois das barrigas do PSD e do CDS. Mas quando saíram lá, não foi para se redimirem do mal que tinham feito enquanto membros do PSD e do CDS. Não, foi para ainda acelerarem mais a política agressiva que tinham.

Podem-se pintar de todas as cores, podem falar alto, podem esbracejar, podem inventar todas as mentiras, que é uma coisa recorrente nestas forças. Mas a verdade é essa: é que nós sabemos de onde é que eles vêm e sabemos porque é que saíram. E sabemos o papel que o capital lhes está a dar. Estão a cumprir. Temos de reconhecer que estão a cumprir esse papel. E, portanto, no fundo, voltando à pergunta, as pessoas que estão justamente indignadas, estão justamente sendo absolutamente traídas. Sentem-se maltratadas. O voto, para ser consequente com isto, tem que ser o voto no protesto, na indignação, mas também na esperança de abrir um novo caminho. E tudo isso só pode ser no PCP e na CDU. Tudo o que seja entregar esse voto desse justo protesto a outras forças que, na prática, o que querem é esses votos para continuar as coisas como estão ou ainda acelerar [mais], é um voto perdido.

O que é que diria a um eleitor do PS?

O PS mostrou nestes últimos dois anos àquilo que vinha. E eu talvez tivesse a ousadia de lhe dizer assim a um eleitor do Partido Socialista, que sente justamente, que se sentiu justamente traído, que foi iludido: talvez a única forma que tenham para ajudar a pôr o seu partido no sítio é reforçar a CDU. Porque a única garantia que têm para que haja uma política ao serviço do povo e dos trabalhadores, e arrastar outros para essa política, é votar no PCP e na CDU. Por contraditório que possa parecer, esta é a única garantia que têm e portanto, nós sabemos que houve muita gente que foi iludida, foi arrastada pela chantagem, pela vitimização, foi iludida pelo discurso do orçamento mais à esquerda de sempre, compreendemos esse movimento, diria assim, mas perante estes dois anos ficou tudo claro.

Nós seremos sempre o saco de pancada por uma razão simples: porque nós escarafunchamos lá onde dói. Nós vamos ao centro de onde dói.

Ninguém tem a ilusão sobre o que está acontecer, sobre o que aconteceu, nem o que vai acontecer. Ninguém tem a ilusão de pensar que há um Partido Socialista A e um Partido Socialista B. Não: há um Partido Socialista. Essas pessoas, esses eleitores, alguns daqueles que, certamente, que até votavam na CDU e foram votar no Partido Socialista, o caminho que têm é voltarem à CDU, que será entregue, e é um voto que conta sempre, é um voto que conta sempre e em todas as circunstâncias.

Porque as pessoas sabem de experiência própria que quando o PCP e a CDU se reforçam a vida de cada um anda para a frente. É assim. É assim nos salários, é assim na saúde, é assim na habitação, é assim nos direitos mais gerais, e sabe isso por experiência da vida. Então se sabem isso, só têm uma coisa a fazer: é dar reforço, não à CDU e ao PCP, mas dar reforço aos seus salários, às suas vidas, ao seu acesso à saúde, ao seu acesso à habitação. Que é o mesmo que dizer: votar no PCP e na CDU. E há uma outra questão, também, a história toda demonstra, toda a nossa história demonstra que o PCP, os seus deputados, a CDU e os seus deputados, nunca faltaram, em nenhum momento, em nenhum momento, fossem qual fossem as circunstâncias, para apoiar tudo o que fosse positivo e travar tudo o que fosse negativo, viesse de onde viesse. Portanto, isto é uma garantia que as pessoas têm. Cada voto que vier para o PCP e para a CDU, cada deputado que nós elegermos lá estará no dia 11 de Março, para apoiar tudo o que for positivo e para travar tudo o que seja negativo. Isso é uma grande garantia. Diria assim: também dá um grande descanso a todos e também aos eleitores do Partido Socialista.

O que é que diria a um eleitor do Bloco de Esquerda?

O Bloco de Esquerda tem também, diria assim, acompanha um percurso vário, os percursos vários das forças que têm muitas coisas em comum, mas também têm naturalmente as suas diferenças, e conseguem reconhecer no PCP e na CDU, certamente, a coerência. Só há aqui uma cara, não há duas. A coragem de, mesmo em situações muito difíceis, não deixar de afirmar as posições, aquilo que entendemos ser a verdade, sem contorcionismos. E portanto, as pessoas têm todas as condições de avaliar entre uma força coerente, de verdade, que enfrenta as situações, sejam elas as mais difíceis que forem, em nome dessa coerência e dessa verdade.

Grande parte dos trabalhadores deste país são imigrantes. O PCP também é o partido dessas pessoas?

Claro, as pessoas o que são, são trabalhadores. Nós somos o Partido dos trabalhadores, sejam elas de onde forem, de onde vierem, em que condições estejam. Isso é indiferente. Aliás, essa é uma questão de grande importância, porque, independentemente da sua proveniência, independentemente da sua cor de pele, independentemente da sua língua, eles têm em comum aquilo que têm os trabalhadores portugueses, que é serem explorados, e cada vez mais explorados. Essa a questão fundamental. Nós precisamos não é de nos separar nas nossas diferenças, precisamos é de nos unir naquilo em que somos iguais.

nós não acompanhamos essa palavra “geringonça”, diz-se que ela foi popularmente conhecida por esse nome, mas esse nome não é indiferente, porque ele procura traduzir uma ideia e procura traduzir uma realidade que nunca existiu

Ora nós somos iguais, lá está, uns estão de um lado, outros estão do outro. Uns produzem a riqueza, e criam a riqueza, e outros exploram essa riqueza. Uns põem o país a funcionar, a economia a funcionar com o seu trabalho, e outros vivem à custa do trabalho dos outros. Independentemente de onde é que vêm, da língua que falam, da cor da pele, são trabalhadores como os outros. Para nós isso é a questão central. Nós precisamos é de alargar a unidade de todos os trabalhadores, independentemente da sua proveniência. Essa é que é a questão fundamental, para nós não há diferenças, pelo contrário, precisamos é de garantir essa unidade e de criar as condições para essas realidades também terem expressão do ponto de vista da luta e da resposta.

E o PCP bate-se para que esses 10% da população – ou mais – tenham direitos sociais e políticos?

Claro, têm que ter, então, se as pessoas estão cá, trabalham, vivem cá, cá trabalham, cá vivem, fazem a vida delas, estão estabilizadas no nosso país, têm que ter. Quer dizer, isto não é só trabalhar, não é só trabalhar. É trabalhar, claro, ter todos os deveres e os direitos que quem trabalha tem que ter. Isso não há nenhuma dúvida. Eu sei que hoje em dia está na moda esse discurso de, legalmente empurrar para fora, para ilegalmente pô-los cá dentro. É sempre assim, ao longo da história foi sempre assim. Aqueles que vêm cá dizer que há imigrantes a mais, temos que reduzir a legalidade, diminuir as “quotas”, entre aspas, são os mesmos que, em grande medida, aqueles que querem que eles venham de outras formas, de barco, atravessar de barcos, atravessar o Mediterrâneo. Mas isso são outros, não vale a pena perdemos muito tempo com isto.

O PS apanhou-se com a sua maioria absoluta e o que é que fez para resolver qualquer uma das três questões que tinham sido levantadas? Zero.

Porque é necessário aumentar os salários?

Cada um que faça as contas para perceber. Cada um que faça as contas para perceber. Mas há duas razões. Uma, diria que é mais objetiva: como é que se acompanha, como é que se responde ao aumento do custo de vida com os salários que existem? Isso não é possível. Cada um que faça as contas. Nem vale a pena fazerem contas, porque se há coisa que nós temos todos muito adquirido é que a partir do dia 15 acabou, não há contas a fazer, dia 15 de cada mês, não há contas a fazer, acabou-se as contas.

Essa é a primeira questão. Como estávamos a falar há bocado: aumento brutal das rendas e das prestações, aumento do custo de vida em todos os bens essenciais, tudo o que é essencial. As pessoas hoje estão a comer cada vez menos, a comprar cada vez menos, porque não conseguem aguentar. Se não houvesse mais nenhuma razão, essa era uma razão fundamental para o aumento significativo dos salários e das pensões.

Estes dois anos de experiência do Partido Socialista revelam bem as opções que tomou, para quem servem as políticas e as opções que toma, e, portanto, perante, ponho assim – vocês vão fazer uma aliança para seguir esta opções? Não, connosco não.

Não é um problema de um aumento. É um aumento significativo, que responda, no mínimo, à reposição do poder de compra que foi cortado. Depois há a razão de fundo. Então, quem é que põe o país a funcionar? Quem é que produz a riqueza que é criada? Quem é que cria condições todos os dias para os tais 25 milhões € de lucros por dia dos grupos económicos? Quem é que faz isto? Quem trabalha. São os que trabalham nas fábricas, são os que trabalham nos serviços, são os que trabalham nas limpezas, são os que trabalham em tudo, são os que fazem a distribuição nas plataformas digitais, são os que trabalham nos centros de contacto. É toda esta gente, toda esta gente que trabalha, que produz riqueza, põe o país a funcionar, a economia a funcionar e portanto merecem, pelo menos, duas questões: merecem respeito. As pessoas precisam de ser respeitadas, não são respeitadas. Merecem dignidade, ter uma vida melhor, ter uma vida digna. Merecem ser valorizadas do ponto de vista das suas profissões, das suas carreiras e merecem o aumento de salários. É uma questão tão, tão óbvia, que até me custa a perceber porque é que há pessoas que ainda não perceberam a importância estratégica desta medida.

Como resolver o problema da habitação?

Quem disser que amanhã resolve todos os problemas de um dia para o outro só está a mentir ou é demagógico, ou então... não é possível resolver tudo de um dia para o outro. Isso é uma evidência. A questão contrária a essa é: qual é o caminho que se abre para a resolução dos problemas? E este é um dos problemas que temos enfrentado, em particular nos últimos dois anos. É que o Partido Socialista não só não resolveu, como os caminhos que abriu foram contrários à resolução dos problemas.

Quem quiser eleger deputados para continuar esta política, para continuar a política ao serviço dos tais dos 25 milhões € de lucros por dia, tem uma palete muito grande de opções para fazer.

Mas o que é que nós precisamos? Precisamos, primeiro, de combater a especulação. Combater a especulação é uma ideia fundamental. A segunda é um grande investimento público numa grande necessidade pública de hoje que é a questão da habitação. A habitação deve ser um dos setores, é, de certeza absoluta, o setor económico mais liberalizado da nossa economia. Então, é engraçado perceber o que é que seria da saúde, da educação, do conjunto de respostas públicas, se fossem no sentido daqueles que querem liberalizar todos estes setores da economia, íamos chegar à situação que temos hoje na própria habitação. E, portanto, é preciso combater a especulação, combater esta liberalização do setor, nomeadamente regulando, regulando. É preciso travar o aumento das rendas e é preciso pôr a banca, com os seus lucros a suportar o aumento das taxas de juro, que é uma questão obrigatória, obrigatória.

E é preciso investimento público de dimensão que responda a que corresponda às necessidades. Ora, problemas que nós temos tido sobre isto: fazer uma casa, construir uma casa não é de um dia para o outro, lá está. Mas o problema é que as opções políticas têm sido todas contrárias a esta linha, que é fundamental.

[O que diria a um eleitor do Chega?] eu não confundo os propósitos dessas forças com as pessoas que, por esta ou aquela razão, pensam em apoiar eleitoralmente essa força. São duas coisas completamente distintas. Essa força (…) que se alimentou e foi alimentada durante estes anos de forma vergonhosa. E o Partido Socialista tem muita responsabilidade nisso. Passou dois anos de forma descarada a alimentar e a alimentar-se dessa força, dessas forças. 

O que é que é preciso fazer para salvar o Serviço Nacional de Saúde?

É preciso primeiro ter uma opção que seja exatamente de que o Serviço Nacional de Saúde responda às necessidades dos utentes e responda às necessidades da população. Isto é um princípio básico. Porque se nós temos uma opção que se afirma pelo Serviço Nacional de Saúde, mas depois na prática tudo o que está a fazer é desmantelá-lo aos bocadinhos, parti-lo aos bocadinhos, não é? Uma opção de encerrar uma maternidade aqui para permitir que abra um hospital privado ao lado, uma opção de encerrar serviços...

Ou seja, primeira questão: o que é que nós queremos? Nós queremos um Serviço Nacional de Saúde que responda às necessidades. Primeiro objetivo. Essa é a primeira questão. A segunda questão: criar-lhe condições para que assim seja. Condições, desde logo, de investimento, condições financeiras e condições que permitam fixar os profissionais que fazem falta no Serviço Nacional de Saúde, médicos, enfermeiros, técnicos e outros profissionais.

Desde logo, nas questões financeiras, nas questões remuneratórias, mas também noutra questão, que é talvez mais importante do que esta, que é respeitá-los. Voltamos à conversa de há pouco dos salários: respeitá-los. Porque os médicos, os enfermeiros, os técnicos de saúde, esta gente toda podendo optar, tendo condições financeiras, tendo condições, até, de trabalho, tendo condições e sendo respeitados, não tenho nenhuma dúvida, não tenho nenhuma dúvida que, podendo optar, optam pelo Serviço Nacional de Saúde em vez do setor privado. Não tenho nenhuma dúvida sobre isto. Nós vemos isso todos os dias. Gente que veste a camisola, com grande sacrifício. Médicos, enfermeiros, gente nova, jovens médicos, jovens enfermeiros, que vestem a camisola com gosto [pelo] Serviço Nacional de Saúde, que vestem com gosto. Mas não vai lá com gosto só, vai lá com condições, com valorização, com reconhecimento, com respeito e com salários.

Podem-se pintar de todas as cores, podem falar alto, podem esbracejar, podem inventar todas as mentiras, que é uma coisa recorrente nestas forças. Mas a verdade é essa: é que nós sabemos de onde é que eles vêm e sabemos porque é que saíram.

Ora, esta é uma questão fundamental. E há uma coisa que não pode continuar a acontecer: nós não podemos ter uma situação onde o Serviço Nacional de Saúde é que é, peito cheio, e depois mais de metade do orçamento do Serviço Nacional de Saúde do Orçamento do Estado é para ser transferido para o setor privado. Ora, isto não pode. Como é que é possível responder às necessidades do Serviço Nacional de Saúde com mais de metade do seu orçamento é para transferir para o setor privado? Não dá. Há aí uma contradição de fundo nesse processo.

Faz no próximo ano 50 anos o 25 de Abril. Às vezes, o PCP parece muito concentrado no passado e pouco virado para o presente e para o futuro. Fala do 25 de Abril há 50 anos, mas 50 anos depois estamos noutra situação. Fala que é contra o sistema, mas só fala da Constituição.

E não é pouca coisa, a Constituição não é pouca coisa...

Como é possível que isso não seja apenas virado para o passado e se torne virado para o futuro?

Ninguém tem a ilusão sobre o que está acontecer, sobre o que aconteceu, nem o que vai acontecer. Ninguém tem a ilusão de pensar que há um Partido Socialista A e um Partido Socialista B. Não: há um Partido Socialista.

Se há coisa que falamos quando falamos sobre o 25 de Abril é de futuro. Desde logo, quando queremos projetar os seus valores, os seus valores no futuro de Portugal. Essa é a questão. Essa é que é a grande questão. Nós estamos perante uma revolução que foi inacabada, ficou inacabada. Que sofreu um processo contra-revolucionário de grande dimensão, que está aí, todos os dias. Mas os seus princípios, as suas conquistas, os seus valores são valores fundamentais para o presente e o futuro. Não há nenhuma dúvida sobre isso. E mesmo a Constituição da República, também ela muito mutilada, mas, lá está, concentra lá os elementos centrais. Se ela fosse respeitada e concretizada na vida de todos os dias das pessoas, a vida era muito melhor, nós tínhamos um país muito melhor. Um exemplo concreto: há uma questão que a Constituição da República define, que é o poder económico tem que estar subordinado ao poder político. Ora, o que é que nós temos? Qual é a realidade dos nossos dias? É o poder político subordinado ao poder económico. Ora, isto desvirtua completamente todas as vertentes das nossas vidas. Perante esta realidade, o que temos que fazer? É manter as coisas como estão ou é obrigar a que se cumpra a Constituição?

Nós achamos que é obrigatório que se cumpra a Constituição. A tal de 1976, a tal de 1976. Pode-se dizer, ah, mas isso é no passado. Não: é do passado mas está atual. Este é um exemplo concreto como está atual. Portanto é nesse sentido: os valores, as conquistas, o processo, a ideia, a construção coletiva, aquilo que permitiu a aliança do povo-MFA, todas aquelas conquistas são elementos fundamentais para o presente e para o futuro do nosso país. E, portanto, nós olhamos para Abril, Abril é mais futuro. Abril, de facto, é mais futuro. E os valores de Abril são o futuro de Portugal. E não temos dúvidas sobre isso.

As pessoas sabem de experiência própria que quando o PCP e a CDU se reforçam a vida de cada um anda para a frente.

E já agora, a propósito dessa pergunta, porque penso que está relacionada, da mesma forma que achamos que os valores da Abril devem-se projetar no futuro de Portugal, também achamos que o país tem futuro. O país é um país pobre. O país tem sido empobrecido por opções políticas, tem sido empobrecido. Nós temos recursos, nós temos meios, nós temos condições, nós temos forças disponíveis para. Nós temos gente séria, gente honesta, capaz de levar o país para a frente. Pegue-se nessa gente séria, nessa gente honesta, pegue-se nesses meios, nesses recursos que existem e certamente que nós estamos todos em condições de construir um país melhor, um país melhor para quem cá vive e quem cá trabalha, um país que responda às nossas necessidades e, lá está, recuperando esse caminho que Abril abriu, que foi interrompido, mas que é inevitável que seja retomado.

O que é que vai fazer o PCP depois das eleições?

Vai fazer o mesmo que faz todos os dias: vai continuar a lutar, a abrir o caminho para esse Portugal ter futuro. Isso não há nenhuma dúvida. Também depende da pergunta, porque se a pergunta for – depois das eleições dos Açores, vamos fazer as eleições legislativas, depois das legislativas vamos batalhar pelo Parlamento Europeu. Não, estou a brincar. Vamos fazer aquilo que temos feito sempre temos, temos feito sempre: crescer, alargar, esclarecer, mobilizar, dar ânimo, ir buscar força e confiança às pessoas, dar-lhes ânimo, porque a batalha não acaba no dia 10 de março. A batalha vai continuar, vai continuar. O que é que nós precisamos? O que é que o PCP e a CDU precisam, e acima de tudo, o que é que os trabalhadores e o povo precisam? Precisam que o PCP e a CDU, depois do dia 10, estejam em melhores condições para travar essa batalha, essa batalha que vai continuar e que não vai acabar no dia 10. E estamos muito convencidos que assim vai ser.

Como é que explica aos seus filhos aquilo que faz e os tempos que estamos a viver?

Às vezes não é fácil, às vezes não é fácil. Mas talvez eu tenha o privilégio de ter três filhos com idades muito diferentes, mas muito despertos para o dia a dia, muito vivos, muito interessados na realidade, que têm também esse privilégio de se confrontarem com a realidade da vida e não propriamente, o que conhecem não é propriamente a partir da comunicação social, é da vida, é da vida. E com o privilégio que nós temos... às vezes, gostávamos de estar mais tempo uns com os outros, é mesmo assim. Mas aqueles poucos momentos temos que temos são momentos de construção, às vezes de construção mesmo física, não é? E isso também cria um ambiente que, por um lado, as coisas podem ser muito difíceis, mas que há sempre forma de as resolver, há sempre um caminho que se abre para as resolver. E eu acho que é um bocadinho o objetivo que também tenho, não de os doutrinar, não é nada disso, mas de dar elementos para eles refletirem, para crescerem, e para se sentirem, não esquecendo a sua individualidade, de cada um, sentirem-se mais úteis se essa individualidade for posta ao serviço do coletivo, nas coisas pequenas da vida, nas coisas pequenas da vida. É esse o desafio. Sobre o que faço: uns vão percebendo melhor, o mais velho vai percebendo melhor, a mais pequenina vai percebendo pior, mas vão todos percebendo à sua maneira, naturalmente.

Só há aqui uma cara, não há duas. A coragem de, mesmo em situações muito difíceis, não deixar de afirmar as posições, aquilo que entendemos ser a verdade, sem contorcionismos.

O que é que diria para as pessoas votarem na CDU nestas eleições?

Confiem na força de confiança. As pessoas sabem. As pessoas sabem. As pessoas sabem que quando a CDU e o PCP crescem, a vida delas melhora. Foi assim em todos os momentos, é assim e sabem isso. E sabem com o que é que contam. As pessoas quando votam no PCP e na CDU não votam às escuras. Sabem com o que é que contam. Sabem que aqui está um porto seguro, está uma força coerente que estará em todos os momentos para apoiar o que é bom e para travar o que é mau, venha lá de onde vier. E isso dá-nos uma grande segurança e uma grande confiança. E que cada voto que venha para a ser CDU, é o tal voto de protesto, de indignação, também de soluções, e acima de tudo, um voto de esperança, porque as pessoas também precisam de esperança. A vida está muito difícil, a situação é muito complexa e é preciso abrir um caminho de esperança, um caminho novo que responda aos seus problemas, de uma vez por todas, e, de uma vez por todas deixe de responder aos problemas dos grupos económicos. Porque para esses os problemas são menores, por um lado e, por outro, têm lá muito já quem os defenda.

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